quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Alhos e bugalhos

Exercício na Oficina. Fazer um haicai baseado numa vivência, com o tema "suor, suando, suar".
Herdei do meu pai um descontrole nas taxas de triglicérides. Por isto como alho junto com a comida na hora do almoço.

o suor
com cheiro de alho--
saudade do pai
ceci matsu

comigo, tudo bem

Entender as pessoas com as quais convivemos é um desafio diário. A comunicação tem duas vias: a pessoa que fala e a pessoa que ouve. Basta uma não entender a outra, ou querer melar a comunicação da outra, para que não exista comunicação. Não adianta eu dizer A, se o meu ouvinte entende B. Então, muitas vezes perdemos tempo somente explicando o que queríamos dizer e a outra pessoa explicando porque entendeu B.
Quando o desentendimento for de boa fé, tudo acaba bem.

"Vivemos num tempo em que as coisas
desnecessárias são as nossas únicas
necessidades,

Hoje, sabemos o preço de tudo e o
valor de nada."

O retrato de Oscar Wilde - fragmentos - Legrand

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A vida secreta das abelhas

Assisti à um dvd: A vida secreta das Abelhas. Chorei muito, muito. É uma história sobre a rejeição e os seus efeitos na vida de uma pessoa. En passant, fala-se sobre violência contra a mulher, preconceito e violência contra os negros, esquisofrenia, as abelhas etc. Trata-se também do poder regenerador do amor, da serenidade e do trabalho. Fala-se de vida e de morte. Um ciclo completo.
Em muitas cenas, senti-me retratada. Em outras, pude constatar como sempre temos um modo peculiar de reagir às tristezas e à pressão da vida. Todos os sobreviventes, construímos um "muro das lamentações", por isso sobrevivemos.

"Não se governa a vida com a verdade
ou com as intenções.

A vida é uma questão de nervos, de
fibras, de células de formação lenta,
onde o pensamento se aloja e a paixão
esconde seus sonhos."

O Retrato de Oscar Wilde - fragmentos - Legrand

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O eco da música de outra pessoa...

Homenagem para uma pessoa da treva, que nem me conhece e faz fofoca com o meu nome. Essa pessoa está sendo injusta comigo. Talvez nem esteja sendo injusta, já que pode estar agindo assim de caso pensado.

Boa influência é coisa que não
existe. Toda influência é imoral...
imoral do ponto de vista científico.

Influenciar uma pessoa é emprestar-lhe
a nossa alma. Essa pessoa deixa de ter
idéias próprias. de vibrar com suas
paixões naturais.

As suas qualidades não são verdadeiras.
Os seus pecado, vêm-lhe de outrem.

Essa pessoa torna-se o eco da música
de outra pessoa, intérprete de um
papel que não foi escrito por ela.

O Retrato de Oscar Wilde, fragmentos, Legrand

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As estrelas brilham

nenhum vento:
parecem esculturas
as flores do jardim
ceci matsu

Ontem à noite, fui ao jardim, observar em volta, numa postura zen, para tentar encontrar os caminhos do haicai. Produzi este haicai. Recebi a aprovação crítica do Prof. Franchetti.

confinado
o homem olha pro céu--
as estrelas brilham
ceci matsu

Quanto a este, desprovação total. A mentira tem pernas curtas: o confinado, sou eu, não confinada, mas sem poder sair, paralizada pelos meus medos. Porém, basta um olhar para o céu, um encontro com as estrelas brilhantes, para tudo mudar e a esperança voltar ao meu coração.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cheiro de Jasmim

Pela manhã
o cheiro do jasmim
mesmo sem orvalho
ceci matsu

Entrei numa oficina para a prática de Haicai. Uma prática que me atrai, por despertar em mim uma emoção estética. O haicai, segundo o Prof. Paulo Franchetti, um estudioso do assunto:

"Haicai é a arte verbal de, com o menor número de elementos e com a maior discrição, produzir emoção poética profunda. Do ponto de vista da forma, haicai é um texto em três versos breves, centrado numa sensação ou numa percepção pontual, escrito em linguagem comum, direta, de vocabulário simples e sintaxe usual, sem metáforas nem personificações e sem uso ostensivo de aliterações, assonâncias e rimas. O haicai, tal como o entendemos nesta lista, não traz juízo ostensivo de valor nem é sentimental, não faz proselitismo nem busca fornecer ao leitor uma lição moral; pelo contrário, valoriza a modéstia e a contenção, a piedade e a solidariedade como atitude frente ao mundo."

Estado mental que deriva do haicai: humor, a liberdade, a simplicidade, a solidão, a abnegação, a gratidão, o amor, a coragem, a brevidade, não intelectualidade, não contraditoriedade, não moralidade e materialidade.

O haicai acima começou assim:
Pela manhã
nenhuma gota de orvalho
Mas o jasmim cheira.
Evoluiu assim:

Pela manhã
nenhuma gota de orvalho
Só o cheiro do jasmim

Vem da vivência de dias secos e calorentos por aqui, sem chuvas, portanto sem orvalho nas plantas. No jardim, um jasmineiro forma uma cerca divisória. Só tem folhas e um único jasmim, pequenino, e muito cheiroso.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Pra vocês, minha paz.

Há pessoas que vivem cheias de frustrações e descarregam sobre os outros. E o que é pior, muitas vezes posam de boazinhas e tem uma imagem social irretocável, o que estimula mais e mais o tal comportamento maléfico. Porém, passam o tempo a envenenar a vida alheia com o negativismo, a inveja e o egoísmo desmedido, o ódio e a prepotência. Julgam-se perfeitas, nunca erram, preocupam-se com a vida alheia e esquecem da própria.
Deveriam, sim, exercitar a curiosidade natural do ser humano, buscando aprender mais, estudando e pesquisando, buscando mais sabedoria, o que levaria ao amadurecimento e, em consequência a um estado de felicidade e vivência do tempo com dignidade e gratidão, pelo que nos é oferecido no nosso curto tempo de vida.
Já que somos viajantes nesse mundo, nada nos pertence, que possamos enriquecer cada dia vivido com novas descobertas e aprendizado.
Portanto, pessoas assim: Esqueçam que eu existo, porque estarão perdendo tempo e se enraivecendo cada vez mais com as minhas atitudes ou falta de atitudes e se envenenando mais e mais com o próprio veneno.
Pra vocês, a minha alegria e a minha paz.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Aqueles que pedem JUSTIÇA serão justos?

Crimes acontecem diariamente ao nosso lado e não ligamos porque não é conosco. Somente o que nos afeta pessoalmente consegue nos tirar da letargia em que mergulhamos.

Mas de vez em quando, principalmente quando a vítima é uma criança branca, loura e bonita, a comoção toma conta da massa, que de repente se mobiliza e se indigna e pede justiça com todo o vigor. Quantas crianças negras e miseráveis são estupradas e abusadas e ninguém se comove, ninguém liga, ninguém vê, ninguém ouve, ninguém faz nada.

O próprio estuprador e assassino confesso foi abusado quando criança e ninguém ligou. A nossa indiferença e falta de compaixão tem sido a pedra que rola e agrega mais e mais miséria, inchando até que um dia explode, sem que tenhamos controle. Nós deveríamos nos indignar sempre, inclusive quando esses falsos moralistas que invadem a casa do assassino e roubam e depredam, e exercitam seu ódio, esquecendo que lá mora uma mâe, que sofre mais do que todo mundo. Nós deveríamos nos indignar, mas não deveríamos odiar.

O ódio embrutece a alma, o ódio cega e tira a lucidez mental, o ódio corrompe toda a nossa estrutura afetiva e nos tira a dignidade. O ódio nos leva a praticar atos, tão ou mais indignos do que os atos praticados pelos bandidos e assassinos.

Que tal, exigir das autoridades o rigoroso cumprimento da lei para todos? Que tal eleger pessoas diferentes dessas que estão aí roubando e adotando outros comportamentos indignos? Que tal irmos à luta para mudar as regras que não estão dando certo? Que tal cobrarmos das autoridades o cumprimentos de todas as ações saneadoras de curto e de longo prazo. Em vez de assistir um filme contando a vida de um fulano, falsificada em muitos fatos para comover a opinião pública, vamos meditar que as nossas vidas dariam um filme mais comovente do que aquele, mas não precisamos nos fazer de vítimas.

Precisamos ser honestos, solidários com o sofrimento, principalmente dos mais desfavorecidos. Podemos dar esmolas num momento crucial, sim. Mas se não oferecermos trabalho, nada teremos feito, pois sem condição de sobrevivência própria, não se consegue viver. Que tal cobrar das autoriadades as ações necessárias ao fortalecimento empresarial para criar vagas de trabalho, sem aumentar mais ainda as despesa públicas?

Que tal?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Verdade?

Uma coisa é o que é, e não o que se diz ser. A medida da verdade(como correspondência) é o ser ou a coisa, não o pensamento ou o discurso. No entanto, o enunciado da verdade pode ser sobejamente manipulado por quem enuncia e também por quem ouve, dependendo do preparo intelectual ou moral de um ou de outro.

Em sociedade as pessoas enquadram-se nos padrões estabelecidos para serem bemquistas e admiradas. As que não se enquadram são duramente questionadas e discriminadas. As minorias organizam-sem em guetos não porque querem, mas porque são levadas a isso, em face do isolamento que lhes é imposto.

As famílias são projeções da sociedade. E no seu núcleo ocorrem, em menor escala, os mesmos fenômenos ocorridos em larga escala na sociedade.

A verdade, aqui, como lá, pode ser manipulada, inclusive propositalmente, para atingir uma finalidade pérfida ou para alimentar um sentimento igualmente pérfido, como a inveja e o egoísmo.

A manipulação da verdade pode cegar, a ponto de se pensar ser verdade uma mentira formulada com frequência. Mas a verdade permanece verdade. Isso é importante, mas não garante que um dia ela será resgatada.

Em minha vida tenho que lidar com esse fato todos os dias. Quando leio os jornais diários, quando assisto à TV, quando me relaciono com a família e os amigos. E me pergunto sempre: qual o prazer de incorporar uma mentira como verdade, principalmente se tal ato vai prejudicar a vida de alguém, ou de uma comunidade?

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A finalidade da vida é, para cada um
de nós, o aperfeiçoamento, a realização
plena de nossa personalidade.

Hoje, cada qual tem medo de si próprio:
esquece o maior dos deveres: o dever
que tem consigo mesmo.

Naturalmente, o homem é caridoso.
Dá de comer ao faminto, veste o
maltrapilho. Mas a sua alma é que
sente fome e anda nua.
O Retrato, de Oscar Wilde, fragmentos. Legrand

domingo, 10 de janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

O Primeiro Livro


Ontem, fui a uma palestra num Centro Espírita a convite de uma amiga. Falou-se, claro, de re-encarnação, crença maior do espiritismo. Lembrei-me do texto abaixo, escrito pela Clarice Lispector, quando cronista de um jornal. Escrito com um tom de intimidade sem par, dando a impressão de uma conversa informal, sem cuidados de expressão literária, ou até de revisão.

O Primeiro Livro de cada uma de minhas Vidas
Clarice Lispector

Perguntaram-me uma vez qual fora o primeiro livro de minha vida. Prefiro falar do primeiro livro de cada uma de minhas vidas. Busco na memória e tenho a sensação quase física nas mãos ao segurar aquela preciosidade: um livro fininho que contava a história do patinho feio e da lâmpada de Aladim. Eu lia e relia as duas histórias, criança não tem disso de só ler uma vez: criança quase aprende de cor e, mesmo sabendo de cor, relê com muito da excitação da primeira vez. A história do patinho que era feio no meio dos outros bonitos, mas quando cresceu revelou o mistério: ele não era pato e sim um belo cisne. Essa história me fez meditar muito, e identifiquei-me com o sofrimento do patinho feio -- quem sabe se eu era um cisne?
Quanto a Aladim, soltava minha imaginação para as lonjuras do impossível a que eu era crédula: o impossível naquela época estava ao meu alcance. A idéia do gênio que dizia: pede de mim o que quiseres, sou teu servo -- isso me fazia cair em devaneio. Quieta no meu canto eu pensava se um dia um gênio me diria: "Pede de mim o que quiseres." Mas desde então revelava-se que sou daqueles que tem que usar os próprios recursos para terem o que querem, quando conseguem.
Tive várias vidas. Em outra de minhas vidas, o meu livro sagrado foi emprestado porque era muito caro: Reinações de Narizinho. Já contei o sacrifício de humilhações e perseveranças pelo qual passei, pois já pronta para ler Monteiro Lobato, o livro grosso pertencia a uma menina, cujo pai tinha uma livraria. A menina gorda e muito sardenta se vingara tornando-se sádica e, ao descobrir o que valeria para mim ler aquele livro, fez um jogo de "amanhã venha em casa que eu empresto". Quando eu ía com o coração literalmente batendo de alegria, ela me dizia: "Hoje não posso emprestar, venha amanhã." Depois de cerca de um mês de venha amanhã, o que eu, embora altiva que era, recebia com humildade para que a menina não me cortasse de vez a esperança, a mãe daquele primeiro monstrinho da minha vida notou o que se passava e, um pouco horrorizada com a própria filha, deu-lhe ordens para que naquele mesmo momento me fosse emprestado o livro. Não o li de uma vez: li aos poucos, algumas páginas de cada vez para não gastar. Acho que foi o livro que me deu mais alegria naquela vida.
Em outra vida que tive, eu era sócia de uma biblioteca popular de aluguel. Sem guia, escolhia os livros pelo título. E eis que escolhi um dia um livro chamado O Lobo da Estepe, de Herman Hesse. O título me agradou, pensei tratar-se de um livro de aventuras tipo Jack London. O livro, que li cada vez mais deslumbrada, era de aventura, sim, mas outras aventuras. E eu, que já escrevia pequenos contos dos 13 aos 14 anos fui germinada por Herman Hesse e comecei a escrever um longo conto imitando-o: a viagem interior me fascinava. Eu havia entrado em contato com a grande literatura.
E outra vida que tive, aos 15 anos, com o primeiro dinheiro ganho por trabalho meu, entrei altiva, porque tinha dinheiro, numa livraria, que me pareceu o mundo onde eu gostaria de morar.Folheei quase todos os livros dos balcões, lia algumas linhas e passava para outro. E de repente, um dos livros que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo, presa, ali mesmo. Emocionada eu pensava: Mas esse livro sou eu! E, contendo um estremecimento de profunda emoção, comprei-o. Só depois vim a saber que a autora não era anônima, sendo, ao contrário, considerada um dos melhores escritores de sua época: Katherine Mansfield.
in, Aprendendo a Viver, Editora Rocco

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Notícia da Casa


Tenho saudades não sei de quê... Involuntariamente apaguei da minha memória toda a minha infância, ao lado da mamãe e do meus irmãos. A lembrança mais remota que tenho é de quando tinha oito anos de idade e seguia com minha tia Cecy para um Internato no Rio de Janeiro. Aliás, um pouco antes, quando me despedi da mamãe e chorava dizendo que não queria ir. Mas ao contrário do que era de se esperar, tenho ótimas recordações do tempo de internato. Fiz amizades lindas com alunas e com os mestres e freiras que passaram por mim. Depois de um período de quase dez anos, novamente contra a minha vontade, tive que dizer adeus a todos e tudo que planejara construir. Voltei, agora como forasteira, uma estranha na minha terra, na minha família. Dessa vez meu coração já não suportou tão bem, e me transformei numa criatura um pouco ranziza. E me guardei a sete chaves. Somente Deus conhecia o que se passava na minha mente e no meu coração. Dessa inadequação nunca mais me curei. Sinto-me sempre desconfortável na vida. Como caramujo, levo minha casa pra onde vou e vira e mexe estou me escondendo bem lá dentro, tentando resguardar-me dos sofrimentos.
Mais um dia nublado por aqui...

Notícia da Casa
Ruy Espinheira Filho

A casa não se descreve:
sente-se. Aqui permanecem
todos: dos que não vieram
àqueles que já partiram.

Na casa jamais se apaga
a luz com que me fitaste
(porém em ti, não: em ti
era só vidro, quebrou-se).

A casa se arquiteta
a si mesma, cada vez
mais habitada, enquanto
sangro paredes e espaços.

E cresce. Até não deixar
sinal no meu peito imóvel.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"...o terrível é o tempo"

Ficar de bem com o Passado tem sido a minha batalha mais íntima. Combater o sentimento de rejeição por uma conduta desastrada dos meus pais, sem no entanto deixar de amá-los. Tentar me colocar no lugar e no tempo deles para perdoá-los é fácil. O difícil tem sido limpar a cicatriz, que sei, nunca desaparecerá, mas um dia ficará tão imperceptível que não me incomodará mais. Conviver com as críticas e julgamentos idiotas dos que não conseguem aceitar outra verdade que não seja a sua própria tem sido a luta mais insana nesse quesito. Mas fiel ao princípio de que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, não desisto e continuo a viver o amor e o perdão, tentando e tentando não repetir com o meu filho esses atos insanos.
Subverter é a minha meta. Então, em vez de me enquadrar nos padrões, busco as soluções mais criativas dentro das minhas possibilidades. E tenho alcançado vitórias com muita dificuldade e tão lentamente, que às vezes, inúmeras vezes, tenho vontade de desistir, mas como já afirmei anteriormente desistir não faz parte dos meus planos.

III

O terrível é o tempo, a minha forma
de não ver o contínuo
real, os confundidos no presente
vários tempos que o mesmo tempo forja.
O abranger sucessivo
das coisas é que impede a minha urgente
vontade de entender o que em mim sente.
De olhos postos na vida e na esperança,
comtemplo com espanto esse inclinar-se
de frondes e de sombras
sobre a erva. Sei de mim que sou grave,
e tenho intensidade
sem luxúria, e o sentido que busco
de mim e do que vive é esse profundo

não saber minucioso de luz vária.
O fino amor que sinto
resiste à fria pedra, à dura gema,
e se exercita na constância da água;
e cresce enigma, absinto,
ora dilui, ora dilata a pena.
Esmorece? edifica? em forma lenta
permite, e não, o anelado contato
com o que é, sem atrever-se ao mínimo
movimento de entrega.
O gesto volta em ondas para dentro:
tenho o rosto tranquilo e o peito ardendo.
Mas quem salva do tempo esse passivo
contemplador do amor e do infinito?
- Marly de Oliveira, in Contato, ed. Imago -

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um desejo para 2010

O período que antecede o Natal até a passagem do Ano Novo é muito estressante para mim. Barulho por todos os lados, filas pra tudo, tempo escasso, transportes coletivos lotados, engarrafamentos impossíveis, até as praias ficam tão cheias. As missas e os cultos costumam ter mais frequencia do que o normal.
Estou precisando urgente de silêncio. Quero o silêncio dos sons e ruídos do dia a dia e o silêncio da alma. Preciso aquietar o meu coração e a minha mente. Domingo não fui a casa da mamãe. Estive sozinha para tentar captar o vazio do silêncio, mas meus pensamentos não deixaram.
Um desejo para 2010: Aprender a esvaziar-me.

domingo, 3 de janeiro de 2010


O Dia está nublado, o sol ainda não apareceu, estou nublada também.
Minha vida tem sido regida pelo sol, pelo seu brilho, pelo seu calor, pela sua alegria. O suor escorrendo em gotas cristalinas, emanam meu cheiro e minha energia para o mundo. Sem o brilho do sol eu me apago e libero os fantasmas que me habitam. O interessante é que também atraio os fantasmas dos outros, como os fantasmas daquela amiga, que está vivendo um drama familiar com a decadência da sua relação amorosa. Entre os fios da linha telefônica suas palavras parecem raios e trovões abafados pelo sentir feminino. Seu choro contido, baixinho para que não seja ouvido ao derredor, soa como uma cachoeira da seca, um filete de água pedindo socorro aos deuses da natureza para viver um pouquinho mais.
Ao final, estou esquisita, com um cansaço, uma dor, uma lembrança, outra lembrança, outra dor, muita dor...
Refugio-me no meu gabinete biblioteca e escrevo para espantar a dor. Olho ao redor como se estivesse fazendo um foto panorâmica, lá em cima à esquerda (do lado do coração...será coincidencia ou sincronicidade?) uma singela bonequinha segura uma plaquinha de madeira com a inscrição: Eu te amo!
Pela janela o azul vaza do céu e o sol insinua-se aos poucos.
Bom domingo!

sábado, 2 de janeiro de 2010

2010 - Centenário de Rachel de Queiroz





"Para celebrar Rachel Além das suas primeiras crônicas republicadas, Rachel de Queiroz será lembrada pelo Grupo de Comunicação O POVO em lançamento de livros e festival gastronômico
Além do Grupo de Comunicação O POVO, a Academia Brasileira de Letras homenageia a escritora cearense (Foto: google)

Dezembro 00h32min 2009] Abrir espaços para a contemplação e apreciação de Rachel de Queiroz. O presidente da Academia Brasileira de Letras, o professor Marcos Vinicios Vilaça, acredita que essa é a principal contribuição que O POVO proporcionará com as republicações. Vilaça conta que a ABL também organizará ações de celebração do centenário da escritora cearense e diz que a instituição está à disposição para colaborar com as comemorações do Grupo de Comunicação O POVO. ``Dona Rachel foi uma pessoa muito ativa e preponderante na Academia. Atuou como conciliadora a despeito do seu temperamento forte. A importância ultrapassa o fato de ela ter sido a primeira mulher na Academia, mas se fincou pela atividade na vida pública brasileira``, pontua o presidente. Autora de dois livros sobre a escritora cearense, o infantil A casa dos benjamins e Raquel de Queiroz & Biografia, a jornalista Socorro Acioli classifica a seleção como um ``verdadeiro tesouro`` que ajuda aos leitores a se localizar no mar de uma produção tão intensa de crônicas. ``Ela sempre obedecia à definição do gênero crônica, tratando de fatos presentes, contemporâneos e muitos se preservam atuais``, aposta. As crônicas deverão ter uma influência forte na formação de leitores na cidade, na opinião da professora da Universidade Estadual do Ceará, Maria Valdênia da Silva. Doutora em letras Universidade Federal da Paraíba, Valdênia avalia que Rachel se revela uma ótima contadora de histórias em suas crônicas e, por isso, uma porta de entrada para novos leitores. Morte, saudade, infância, juventude, tempo, juventude, política. O rol era grande. ``Os temas são muitos, mas essencialmente da condição humana. Isso faz que eles sejam atuais tantos anos depois``, indica. A publicação das crônicas é só o começo. A comemoração do centenário da Rachel de Queiroz vai mobilizar todas as mídias do Grupo de Comunicação O POVO. Três cadernos especiais serão encartados na edição impressa em abril, um documentário será realizado pela TV O POVO, um circuito gastronômico com 12 restaurantes desenhará receitas da escritora. A celebração prevê, ainda, a publicação de uma série de livros pela Fundação Demócrito Rocha. Entre eles, um estudo crítico, coordenado pela professora Fernanda Coutinho com texto de nomes como Heloísa Buarque de Holanda e Luiz Bueno. Em abril, deverá ser lançado também o livro Primeiras Crônicas, seleção especial de textos de Rachel de Queiroz publicadas pelo O POVO, acompanhadas de um texto inédito. O escrito foi cedido pela escritora e roteirista Maria Gessy, responsável pela roteirização de diversas obras de Ziraldo para a TV e para o cinema, e fazia parte de um projeto de seleção de crônicas que não foi levado adiante. O Ano Rachel de Queiroz deve contemplar, ainda, o Prêmio Literário Nacional, com o objetivo de laurear as obras de grandes nomes da literatura brasileira e cearense. Com a premiação para o conjunto da obra para grandes nomes e para escritores iniciantes. O processo de seleção é coordenado pela curadoria do projeto com a chancela da Academia Cearense de Letras. (Angélica Feitosa) "




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010 começou

Primeiro dia do ano 2010. Saí. munida de máquina fotográfica, na expectativa de reencontrar amigos e passar momentos agradáveis. A praia estava absurdamente lotada, não conseguimos encontrar uns amigos dos meus amigos, de Teresina. De longe avistamos uma mesa vaga na beira da praia, local privigeliado com a sombrinha fechada. Corremos pra lá, fomos logo avisados pelo vizinho de mesa, que não tinha garçom atendendo aquela mesa, por que somente vieram três garçons para trabalhar. Mas teríamos água de coco à vontade, mediante compra direta ao ambulante vendedor de coco. Fazer o que? Sentamos, para conseguir um pouquinho de sombra, pois o sol estva inclemente, apesar de o dia estar nublado. Entre goles de água de coco e picolès, a conversa sobre a noite da passagem de Ano Novo. Meus amigos foram pra praia, com esperanças de passarem uma noite agradável. Sofreram muitos empurrões, isso sim. Perderam-se uns dos outros. Os salgadinhos ficaram com uns, o champanhe com outros. Não viram nada do show, somente ouviram. Voltaram pra casa decepcionados e afirmando que nunca mais passariam um reveillon ali. De repente policiais armados, revistando uns rapazes, socos pra lá, palavras de ordem pra cá. E nós morrendo de medo de bala perdida, mas não conseguimos arredar pé, paralizados que ficamos. Nessa altura a conversa girou sobre a violência generalizada que nos cerca e sobre a nossa impotência para resolver a nossa vida e a nossa necessidade de paz. Não tive coragem de tirar uma foto sequer. Estávamos com fome e fomos embora para tentar saciar a nossa fome de comida e a nossa fome de paz.
A praia? Linda e calorosa ficou pra trás... Pelo menos tomamos um banho salgado, o primeiro do ano para limpar os maus fluidos. Espero que sim..
Depois em casa, ligo a televisão: chuva, deslizamentos, mortes, tragédia. E ainda tem os mil e um acontecimentos violentos que não chegaram até mim.
Só me resta elevar os olhos aos céus e pedir a Deus que tome conta de mim e da minha vida.