quarta-feira, 10 de março de 2010

Quarta temática: Sexo



Ligo o micro. Na minha página inicial, Yahoo, a chamada: A quarta temática de hoje é sexo. Clico lá e vejo: Críticas à Playboy da Tessália, e leio os comentários mais exdrúxulos. Todos somente querem falar mal da vida alheia. E se se pode juntar sexo e fofoca, a coisa fica melhor ainda. Desde tempos remotos, essas duas coisas, fofoca e sexo, movimentam a vida social. Impressionante como as pessoas se julgam acima do bem e do mal para comentar sobre a vida de outrem. Quem vê, ouve e lê, tem a nítida impressão de que todos os "comentaristas" são santos. Aliás, o que é ser santo? É não fazer boquete? Não fazer sexo anal? Não praticar as posições do Kama Sutra? Em suma, não ter vontade própria?
E o que é melhor, o que dá mais tesão? Falar da vida alheia? Bisbilhotar a vida sexual do Outro? Ou fazer sexo e viver a vida do jeito que se gosta? Pimenta no __ dos outros...
Me poupem. Vão procurar o que fazer.

sábado, 6 de março de 2010

Sábado Poético

O Chamado das Pedras
Cora Coralina

A estrada está deserta.
Vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de a muito se apagou.

Tudo deserto.
A longa caminhada.
A longa noite escura.
Ninguém me estende a mão.
E as mãos atiram pedras.

Sozinha...
Errada a estrada.
No frio, no escuro, no abandono.
Tateio em volta e procuro a luz.
Meus olhos estão fechados.
Meus olhos estão cegos.
Vêm do passado.

Num bramido de dor.
Num espasmo de agonia
ouço um vagido de criança.
É meu filho que acaba de nascer.

Sozinha...
Na estrada deserta,
sempre a procurar
o perdido do tempo
que ficou para trás.

Do perdido tempo
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:

Volta... Volta... Volta...
E os morros abriam para mim
imensos braços vegetais.

E os sinos das igrejas
que ouvia na distância
Diziam: Vem... Vem... Vem...

E as rolinhas fogo pagou
das velhas cumeeiras:
Porque não voltou...
Porque não voltou...
E a água do rio que corria
chamava... chamava...

Vestida de cabelos brancos
Voltei sozinha à velha casa, deserta.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Simples assim...

Ser simples é uma postura de vida. É uma decisão que tomamos de descomplicar. Não significa contentar-se com o mínimo, pois, isso é ser simplório. Li um artigo do Eugênio Mussak sobre o assunto, que lista com muita propriedade, as principais carcaterísticas das pessoas simples:

  • "são desapegadas: não acumulam coisas, fazem uso racional de suas posses, doam o que não vão usar mais.
  • são assertivas: vão direto ao ponto com naturalidade, mesmo que seja para dizer não, sem medo de decepcionar, não enrolam, nem sofisticam o vocabulário desnecessariamente.
  • enxergam beleza em tudo: em uma flor no campo, em um quadro de Renoir; em uma modinha de viola e em uma sinfonia de Mahler; em um pastel de feira e na alta gastronomia.
  • tem bom humor: são capazes de rir de si mesmas e, mesmo diante das dificuldades, fazem comentários engraçados, reduzindo os problemas à dimensão do trivial.
  • são honestas: consideram a verdade acima de tudo, pois ela é sempre simples e, ainda que possa ser dura, é a maneira mais segura de se relacionar com o mundo."

Muitas das vezes que amei fui traída. Não falo da traição física, mas da traição do coração, que leva ao fingimento, à falta de lealdade, à falta de benevolência.

Poderia ter colocado a culpa nos traidores, eximindo-me de culpa. Poderia ter colocado toda a culpa em mim, auto afirmando que não soube amar.

Mas nada disso seria real, pois tudo começou na infância, quando minha percepção de mundo era o meu núcleo familiar, quando meus amores eram meu pai e minha mãe. E continuou vida afora, com a cicratiz bem visível, que ao longo do tempo foi esmaecendo e hoje está quase invisível.

Em cada fase tive uma nova compreensão e o coração foi abrandando pelo amor que nunca deixei de sentir. Hoje posso dizer que algumas vezes não fui traída, mas senti-me traída. Outras vezes fui traída, sim, mas ninguém tem culpa. A vida entrelaçou muitos sentimentos e deu no que deu na minha vida.

Hoje posso dizer que sou feliz, simplesmente feliz, ainda a procura de mais...

A Procura
cora coralina

Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino --
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Por quê?


Procrastinar é a minha cara. Mas a procrastinação de minha parte é seletiva. Somente uso desse recurso quando alguma coisa me desagrada, me incomoda ou me deixa desconfortável. É assim quando alguém me fere de algum modo. Meu primeiro impulso é reagir. No segundo, peço calma a mim mesma e adio a decisão de esclarecer as coisas para um momento mais apropriado. No terceiro, momento, que já não é impulso, normalmente passado um bom tempo, desisto de tomar qualquer atitude. As coisas ficam como estavam e eu perco a chance de mudar para melhor a minha imagem. Tudo porque não suporto discutir e, hoje em dia, qualquer pensamento divergente é considerado um contrasenso ou uma traição.

É realmente difícil, muito difícil, encarar as próprias fraquezas e admitir perante outrem que não somos o centro do mundo, sequer infalíveis.

terça-feira, 2 de março de 2010

O calor está insuportável. Nem o vento dá as caras por aqui. A piscina continua em reforma. Meus dias correm num ritmo morno, sem tesão. Constantemente, o suor me escorre pelo rosto e corpo molha a minha roupa, que gruda no corpo, mostrando-o como se nu estivesse. Este corpo que um dia já foi quase perfeito, hoje sofre com dores intermitentes ao menor contorcionismo a que o submeto. Sim, continuo a maltratá-lo com mil e um malabarismos e longas imobilidades. Sonho com veredas desconhecidas e silêncios terriveis, com sombras e silhuetas macabras. Uma aragem fresca traz um conforto térmico tão breve quanto a chuva rala que vem em seguida. Um dia que não acaba.

Inacabado
ceci agapinheiro

meus pensamentos
constroem muros
meus olhos
mostram enigmas
meu corpo
rompe o cerco da gravidade
num bailado louco desvairado
tento esvasiar minha mente
fecho os olhos para não ver
ou sentir qualquer emoção
porém um precipício se abre
tragando-me vertiginosamente
do lado de dentro
escuro e silêncio de morte
do lado de fora
inquietação e desejos