sábado, 17 de dezembro de 2011

Diante da Morte















Diante da Morte

[ceci agapinheiro]

Uma estranha sensação

me habita

Um sentimento de desamparo

me faz inerte

tão inerte

quanto imagino que o morto seja

Fantasio minha mão

tocando aquele ser estranho

uma explosão gélida

seguindo caminhos inusitados

como um raio

Todos os seres

inertes

gélidos

pálidos

impávidos

nus

A morte desnuda

o corpo

a vida desnuda

os bens

mas não desnudam o secreto

guardado nos escaninhos

de ambos

do morto

e do vivo

A morte tudo pode

A vida?

Essa além de nada poder

nada consegue entender

nada deslinda

nada...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Gerundiando














Gerundiando
©eci @gapinheiro

Aquelas ondas em movimento contínuo
salpicam a saudade em minha janela
colorindo de passado meu presente
Um dia são todos os dias
um minuto todo o tempo
de um tempo que não voltará
quando a inocência era escudo
contra o pecado
e impulso para a volúpia
desordenada dos sentidos
Aquelas ondas salpicam em mim
noites românticas de lua cheia
dança de corpo colado
beijos profundos de língua...
Aquelas ondas salpicam em mim
madrugadas de brilho manso
se abrindo para um sol escaldante
de verão...
Aquelas ondas salpicam em mim
grãos de areia tão branca
pés afundando no andar quase correndo
carícias espumantes
de água morna...salgada...
Aquelas ondas salpicam em mim
sono de muitos e deliciosos sonhos
acordes de sinos tocando
vontade de nunca acordar...
Fortaleza, 21 de junho de 2007.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Um céu não basta
















Um céu não basta
[ceci agapinheiro]


nuvens espalhadas
rajadas de estalactites
um céu não basta
um chão não basta
no entremeio
pés acelerados
mãos abandonadas
olhos ávidos

o percurso é árido
cheio de armadilhas
um pouco zarabatana
o sopro destila o ser
e os seus segredos
o medo não impede
induz ao poder
desde que se calem
para sempre
Fortaleza, 25 de abril de 2011

terça-feira, 22 de novembro de 2011

É impossível frear os sonhos...


 Inconformismo
[ceci agapinheiro]

Expectativas
Se alongam
Se desfazem
Ao sabor do tempo

Hoje o desejo devora
O que ontem explodiu
São luzes opacas
São ecos sem voz
São atos sem fatos

Reprimidos desejos
Vazam pelo branco
Colorem os arcanjos
Apagam as velas
Impedem os cantos

Fecham as portas
Abrem as janelas
É impossível frear
Os sonhos
Fortaleza, 27 de outubro de 2008.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

minhas leituras


O Discurso Secreto

Livro de Tom Rob Smith, escritor inglês. Romance ambientado na União Soviética em 1956, trazendo a memória de pós-guerra (1949). Stálin está morto, ainda idolatrado por uns,  a despeito do legado de um regime violento. Seu sucessor, Nikita Kruschov, pronuncia um discurso no vigésimo Congresso do Partido Comunista Soviético, expondo as vísceras grotescas dos abusos promovidos pelo regime. Tal discurso vai se propagando por toda a Nação e trazendo à tona, as lembranças, o ódio, as feridas e as traições e heroísmo da resistência, provocando mudanças na vida de todos os que tecem as veias dessa nova sociedade frente à fragmentação do regime. A vida continua para “um homem que não poderia julgar sem também julgar a si próprio” um ex-integrante daquela vergonha. Que precisa lutar contra tudo e todos, contra a própria vergonha, para proteger a sua família, até de si próprio.

Parece roteiro de filme, com muita ação e algum romance. Vale pela descrição dos lugares, pelo desvendar do mistério, pelo inusitado, para nós, ocidentais, que as histórias do regime soviético ainda provocam. E nada mais.

sábado, 29 de outubro de 2011

Tempo de Esperar
















Tempo de Esperar
[ceci agapinheiro]

Quando a solidão não dói
Em vez de percorrer os labirintos
Criam-se quebra-cabeças infinitos
Em cada peça um roteiro grita

Quando a solidão não dita
Os rumos que a vida deve seguir
Convém acreditar no futuro por vir
Mesmo que a cegueira imobilize

Quando a solidão escraviza
O silêncio se faz estrondo
E o vulcão se esconde nos montes
Sempre alerta à espera do momento

Quando a solidão se desprende
O mar recua até de vista se perder
Porque não pode ainda voltar
Então a espera se faz definitivamente
Presente
Fortaleza, 17 de maio de 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um Dia


Acabei de ler Um Dia, de David Nicholls. Trata-se de um best-seller, mas não de um livrinho água com açúcar qualquer. Bem construído e jovial, trata da realidade de todos nós, jovens, ou que já fomos jovens, de planos para o futuro, de amores não vividos, de amores realizados, de tempo perdido, de fracassos e de vitórias,  de reconstrução, de relações familiares, mas sobretudo do turbilhão de indecisões que nos comandam quando somos jovens e nos sentimos eternos e inatingíveis pelas tristezas, problemas ou desgraças à nossa volta. Dos nossos erros e das consequências na nossa vida. Coisas inevitáveis, por sermos seres únicos e em construção, cada um à sua maneira.

Depois da leitura, senti o mesmo turbilhão de quando era jovem e nada sabia da vida. Fiquei em estado meditativo e refleti bastante sobre os rumos da minha vida, quantos desejos não realizei, quantos amores não vivi, quantos amigos não permaneceram, quantos tudo sonhei, quantos tudo realizei, quantos tudo fracassei, quantos tudo venci. Enfim, valeu como um alerta sobre a temporalidade da vida e sobre o quanto não devemos perder tempo com aborrecimentos e tristezas, sentimentos de impotência, ou negação da nossa personalidade física ou mental ou espiritual.

Dedico essa leitura àqueles que foram importantes na minha vida, àqueles que ainda são importantes, àqueles que não são ou não foram importantes, mas que  serviram para me fazer ver o lado certo que eu queria, ou me fizeram desviar a rota para chegar ao sucesso, àqueles que nem sabem quanto foram e são amados, àqueles amigos e amigas que guardo na lembrança mas não consigo reencontrar, pois tomaram rumos desconhecidos para mim.

Enfim dedico essa leitura a mim mesmo, que continuo aquela jovem incorrigível, errando e acertando, caindo e levantando, mas no final das contas podendo dizer: --Eu vivo intensamente todos os dias da minha vida. Eu amo. Eu choro. Eu rio. Eu abraço. Eu olho à minha volta. Eu olho pra dentro de mim.

Eu continuo fazendo os meus rastros.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tudo é Noite




Tudo é noite
[ceci agapinheiro]

A chama é apenas
um símbolo da purificação
uma imagem da transcendência
da alma
como o brilho desta lua
hoje
perverte a flama
da paixão
brande a flama
da discórdia
devora o espírito
e atiça a luxúria
também sacia a carne

Fortaleza, 13 de outubro de 2011.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Viver o Inevitável


Viver o Inevitável

[ceci agapinheiro]


A sombra gostosa

e a brisa mansa

fazem a lembrança aflorar

No centro do peito

a dor rasga o caminho

No piscar dos olhos

momentos felizes enfeitam

a parede chamada vida

dura e indestrutivel

como a morte

A chave jogada fora

nunca será encontrada

Fortaleza, 06 de outubro de 2011.



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De Finitude


De Finitude
[ceci agapinheiro]

Não concebo a existência da sorte
sou aquela que o tempo costurou
e a memória enviezou
minhas lembranças me alimentam
de idéias mirabolantes
meu corpo me aprisiona
nos limites do impossível
na certeza de uma finitude
que dói
meus pés me carregam
por caminhos insensatos
minhas mãos me enredam
em volúpias e desacertos
cada gesto produz
uma micro lesão
no pensamento
que dói
que rói

sou aquela aprisionada feito lua
sou aquela que sonha sonhos impossíveis
sou aquela que se enreda na solidão
sou aquela que se equilibra na corda bamba
sou aquela que tem um sorriso aberto
sou aquela que cultiva flores e mel
sou aquela que abraça o vento
sou aquela que brinca com fantasmas
sou aquela que luta pela liberdade
sou aquela que não espera acontecer

Nada de sorte:
sou aquela que morre um pouco a cada dia
sou aquela que a terra vai comer

Fortaleza, 20 de abril de 2011.

sábado, 8 de outubro de 2011

Segredo






[ceci agapinheiro]

Abundam os fatos
Sobram os dados
Faltam os atos

Era segredo
por esse motivo
foi esquecido
e guardado
num escaninho
dentro de outro
escaninho

O tempo passou
o segredo escorreu
e lambeu o juízo
mas ninguém acreditou

O segredo ficou
segredo

Fortaleza, 11 de setembro de 2011

Sempre, sempre, sempre...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Delírios

Delírios
[ceci agapinheiro]

Como um sonho

tudo fica enevoado de repente
as casas se contorcem
será de dor?
as ruas viram mar
serão lágrimas?
as árvores tombam
por cansaço?
os carros patinam
cadê o chão?
a água perfura o chão
perfura o húmus
corta as raízes
abre crateras
atravessa o dia
atravessa a noite
afoga criaturas indefesas
e mergulha num redemoinho
em direção ao nada

Fortaleza, 25 de março de 2011.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Feliz Dia do Beijo!


Eu quero viver contigo
Muito juntinhos os dois
O tempo que dura um beijo,
Embora eu morra depois.
Florbela Espanca, in Trocando Olhares (1915-1917)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um dia em Busca da Felicidade


Um dia em Busca da Felicidade
[ceci agapinheiro]

Um amontoado de tijolos
portas e janelas assimétricas
plásticos tapando eventuais buracos
coqueiros carregados
algumas árvores e galinhas
cães gatos e crianças
tudo misturado
e gritos muito gritos
a favela atravessa as janelas
invadindo sem pedir licença
os dias ensolarados

Ruelas e becos
desembocam em avenidas
nas passarelas passam
principalmente os estudantes
risos alegres se misturam
ao barulho dos carros
a beleza atravessa para
o outro lado o lado
dos dias ensolarados

Tiros muitos tiros
o carro do Ronda vem vindo
a mulher no meio da rua não tem tempo
nem vê o que se passa à sua volta
um barulho e o corpo dela vira
um saco de perplexidade
um amontoado de escuros
uma poça de vermelhos
como os dias ensolarados

Do lado de lá
uma escada nova
deveria subir ao paraíso
no entanto ela só desce
mas para aqueles que não desistem
basta andar em frente até encontrar
uma outra escada que somente
sobe e lá continuar a procurar
o lado dos dias ensolarados
Fortaleza, 09 de fevereiro de 2011

fotografia: by Ceci Pinheiro

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Roteiro de Sangue














(tube by Patry)
Roteiro de Sangue
[ceci agapinheiro]

Mergulho em mim mesma
e me deixo sangrar
e me faço tela virgem
onde o sangue que escorre
desenha um emaranhado
que não consigo decifrar
Assim desconfigurada
permaneço mistério e enigma
e me deixo trancafiar
na esperança de me
encontrar
Se alguém conseguir
os meus medos secretos
desvendar
Terei encontrado
a maneira de seguir em frente
no meu caminhar
Sem que precise estancar o sangue
Sem que precise desfazer a tela
Sem que precise apagar o traço
Fortaleza, 08 de janeiro de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Narcolepsia


(Imagem recebida sem notificação de autoria. Se alguém souber, agradeço se me comunicar.)

Narcolepsia
[ceci agapinheiro]

Pelas janelas fechadas
passam filetes de luz
a poeira vira constelação
os vultos são fantasmas
agonizantes e lúgubres
o silêncio pesa como chumbo
O pisar é tão leve... tão leve...

Pelas frestas passa o vento
os poros tentam se fechar
mas é tarde a pele se ouriça
os fluidos se espalham
o cheiro de lavanda flutua
buscando o equilíbrio
O voar se faz tão leve... tão leve...

As páginas se agitam
rolam ao sabor do vento
vêm e vão sem eira nem beira
as palavras se misturam
redondas quadradas afuniladas
buscam os olhos e o coração
o ler se faz tão leve... tão leve

Portas janelas e cadeira
balançam tão leve... tão leve...
suavemente vão parando... parando...
até ficarem estáticas e mudas

Alguns segundos são o bastante
para que a vida pare
e volte tão leve... tão leve...
Fortaleza, 30 de janeiro de 2011.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Destino e Desatino

Destino e Desatino
[ceci agapinheiro]

uma vontade

o pássaro voa e plana
chega ao ninho
trazendo uma palha
trança e volta
voando feliz

de ser feliz

o ninho seria um lar
sob medida para abrigar
toda aquela felicidade
se não estivesse plantado
exatamente na ponta
da calha pluvial

de afogar as desditas

à noite chove forte
forma-se uma lagoa e um redemoinho
por onde escorrem as palhas
trançadas com tanto capricho

de desaparecer

o ninho desmorona
em toda a sua fragilidade
engolido pela força estranha
da natureza em ebulição

de limpar o rastro...

o operário limpa a terra do corredor
com o ninho retirado da calha
a cerâmica não fica arranhada
porque ninho de passarinho não arranha

desatino

à noite chove torrencialmente
e a água escorre livremente
pela calha
percorre os caminhos naturais
até ao chão
até ao ralo
como os sentimentos daquele
que precisou retirar o ninho
e sentiu o vazio da vida
e o choque da cadeia vital
vingam uns
não vingam outros
vivem uns
morrem outros
não chegam a nascer
aqueles outros
Fortaleza, 04 de janeiro de 2010.

domingo, 2 de janeiro de 2011

amanhecer


amanhecer
Upload feito originalmente por ceciverdadeira

Recomeço
[ceci agapinheiro]

Abro as janelas
e recebo os novos ares
meu rosto se aveluda
meus braços se abrem
automaticamente
Minha mente reverbera
em flashs fotográficos
e memoráveis
de uma vida totalmente
desprovida de um tanto
e transbordante de outro tanto
Tento esquecer os nãos
e relembrar os vãos
Afinal o mais importante
eu fiz: Amei
O mais importante
eu tenho: Amor
O mais importante
eu vivo: Um recomeço
mais um de tantos
Fortaleza, 01 de janeiro de 2011.