sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um dia em Busca da Felicidade


Um dia em Busca da Felicidade
[ceci agapinheiro]

Um amontoado de tijolos
portas e janelas assimétricas
plásticos tapando eventuais buracos
coqueiros carregados
algumas árvores e galinhas
cães gatos e crianças
tudo misturado
e gritos muito gritos
a favela atravessa as janelas
invadindo sem pedir licença
os dias ensolarados

Ruelas e becos
desembocam em avenidas
nas passarelas passam
principalmente os estudantes
risos alegres se misturam
ao barulho dos carros
a beleza atravessa para
o outro lado o lado
dos dias ensolarados

Tiros muitos tiros
o carro do Ronda vem vindo
a mulher no meio da rua não tem tempo
nem vê o que se passa à sua volta
um barulho e o corpo dela vira
um saco de perplexidade
um amontoado de escuros
uma poça de vermelhos
como os dias ensolarados

Do lado de lá
uma escada nova
deveria subir ao paraíso
no entanto ela só desce
mas para aqueles que não desistem
basta andar em frente até encontrar
uma outra escada que somente
sobe e lá continuar a procurar
o lado dos dias ensolarados
Fortaleza, 09 de fevereiro de 2011

fotografia: by Ceci Pinheiro

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Roteiro de Sangue














(tube by Patry)
Roteiro de Sangue
[ceci agapinheiro]

Mergulho em mim mesma
e me deixo sangrar
e me faço tela virgem
onde o sangue que escorre
desenha um emaranhado
que não consigo decifrar
Assim desconfigurada
permaneço mistério e enigma
e me deixo trancafiar
na esperança de me
encontrar
Se alguém conseguir
os meus medos secretos
desvendar
Terei encontrado
a maneira de seguir em frente
no meu caminhar
Sem que precise estancar o sangue
Sem que precise desfazer a tela
Sem que precise apagar o traço
Fortaleza, 08 de janeiro de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Narcolepsia


(Imagem recebida sem notificação de autoria. Se alguém souber, agradeço se me comunicar.)

Narcolepsia
[ceci agapinheiro]

Pelas janelas fechadas
passam filetes de luz
a poeira vira constelação
os vultos são fantasmas
agonizantes e lúgubres
o silêncio pesa como chumbo
O pisar é tão leve... tão leve...

Pelas frestas passa o vento
os poros tentam se fechar
mas é tarde a pele se ouriça
os fluidos se espalham
o cheiro de lavanda flutua
buscando o equilíbrio
O voar se faz tão leve... tão leve...

As páginas se agitam
rolam ao sabor do vento
vêm e vão sem eira nem beira
as palavras se misturam
redondas quadradas afuniladas
buscam os olhos e o coração
o ler se faz tão leve... tão leve

Portas janelas e cadeira
balançam tão leve... tão leve...
suavemente vão parando... parando...
até ficarem estáticas e mudas

Alguns segundos são o bastante
para que a vida pare
e volte tão leve... tão leve...
Fortaleza, 30 de janeiro de 2011.