sábado, 25 de fevereiro de 2012

Por mais um dia...


Mais um dia
[ceci agapinheiro]


De nada adianta olhar apalpar sentir
Se duro perfura a carne
Se mole perfura a nuvem
Os carros passam voando
O vento resolve se guardar
O suor em gotas se equilibra
e requebra feito geleia
O cansaço desfaz o tônus
O barulho ensurdece
enlouquece
produz ruídos inexistentes
Os pássaros cantam alegres
fazem rasantes sobre as cabeças
Ocas
Gatos pretos passam
agourando os dias e as noites
pura afasia
Os pensamentos conduzem
a insanidade de um lado a outro
sem deixar de armazenar
as palavras e os gestos
num poço sem fundo
A palavra “morte” teima em sair
e vagueia por ruas desertas
povoadas de cabeças
Ocas

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Será?


Carne vale?

©eci @agapinheiro

Comer a carne viva!

Um pecado sem perdão,

pois comemos junto a alma,

essência de vida plena.

Talvez por isto, a sábia natureza

induz-nos a matar a alma,

antes, durante ou mesmo depois

de qualquer ato antropofágico.

Melhor matar do que

vender, barganhar ou intoxicar.

E se não a matamos,


aperfeiçoamos.



Foi Real?


Se
[ceci agapinheiro]

Se eu não tivesse olhado
não teria sentido?
Se eu não tivesse sentido
não teria internalizado?
Se eu não tivesse internalizado
ainda existiria aquela saudade?
Aquela imagem
ainda falaria pra mim
olhando nos meus olhos
esboçaria o mais lindo sorriso
franzindo  o cenho?
Aquele abraço ainda me abalaria
a ponto de quase desfalecer?
E o longo beijo que me deu
ainda teria o poder de me desvanecer?
É real?
Foi real?
Fortaleza, 07 de fevereiro de 2012

Putz


Mais uma vez a Morte
[ceci agapinheiro]

Tinha que ser no domingo
tinha que ser no final do dia
tinha que ser de surpresa

Antes, no Natal, estivemos juntos
juntamos os risos, os abraços,
juntamos as letras do nosso sentir,
trocamos certezas e dúvidas.
Ele se nomeou advogado
de uma causa vital para mim.
Não deu tempo de aprontar
a defesa, nem de desarmar
a minha preocupação.
Mas ainda ouço o seu conselho:

Vivamos o presente
pois amanhã o mundo pode acabar.
E acabou o mundo.

Quando acabaram de vedar a campa
o sol se punha por detrás da serra,

A mesma onde, anos atrás, um avião
se despedaçou, e vidas se findaram.
Dezenas de parapendes flutuavam
contra um céu finito e infinito.

Tinha que ser liberdade.
Tinha que ser arte e serenidade.
Tinha que ser saudade.

Fortaleza, 15 a 17 de Janeiro de 2012.