quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Notícia da Casa


Tenho saudades não sei de quê... Involuntariamente apaguei da minha memória toda a minha infância, ao lado da mamãe e do meus irmãos. A lembrança mais remota que tenho é de quando tinha oito anos de idade e seguia com minha tia Cecy para um Internato no Rio de Janeiro. Aliás, um pouco antes, quando me despedi da mamãe e chorava dizendo que não queria ir. Mas ao contrário do que era de se esperar, tenho ótimas recordações do tempo de internato. Fiz amizades lindas com alunas e com os mestres e freiras que passaram por mim. Depois de um período de quase dez anos, novamente contra a minha vontade, tive que dizer adeus a todos e tudo que planejara construir. Voltei, agora como forasteira, uma estranha na minha terra, na minha família. Dessa vez meu coração já não suportou tão bem, e me transformei numa criatura um pouco ranziza. E me guardei a sete chaves. Somente Deus conhecia o que se passava na minha mente e no meu coração. Dessa inadequação nunca mais me curei. Sinto-me sempre desconfortável na vida. Como caramujo, levo minha casa pra onde vou e vira e mexe estou me escondendo bem lá dentro, tentando resguardar-me dos sofrimentos.
Mais um dia nublado por aqui...

Notícia da Casa
Ruy Espinheira Filho

A casa não se descreve:
sente-se. Aqui permanecem
todos: dos que não vieram
àqueles que já partiram.

Na casa jamais se apaga
a luz com que me fitaste
(porém em ti, não: em ti
era só vidro, quebrou-se).

A casa se arquiteta
a si mesma, cada vez
mais habitada, enquanto
sangro paredes e espaços.

E cresce. Até não deixar
sinal no meu peito imóvel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário